Os cinco trabalhos de Júlio
Parte 1:
Júlio depois de muito esforço e batalha consegue ser respeitado pelo eixo tribal, tanto que conseguiu um titulo de mensageiro forte do eixo, um titulo destinado apenas a lendas. Júlio passeia pela mata em cima de sua montaria a onça-pintada aram. O índio era agora um semideus filho de Tupã, mas ele não demostrava qualquer arrogância e sim era o mesmo Júlio de sempre. Ele decidiu parar na sua caminhada e vê se aram estava com sede.
— Está com sede amiguinho? — A onça-pintada um animal que tinha ganhado muita musculatura desde o primeiro encontre entre eles, seu pelo brilhava como se Guaraci o usasse como sua montaria e o animal nem esperou uma segunda pergunta, pulou direto no rio para se banhar e bebe água.
Júlio tirou a roupa e foi se banhar também. O dia estava com o sol no auge e o calor era sufocante. Júlio bebeu aquela água doce e fresca. O índio também tinha ganhado muito mais musculatura e tinha seus 28 anos de pura beleza e aparentava está no auge de sua força e encantamento. O índio percebeu que alguém o espiava e correu para pegar sua espada amaldiçoada, forjada pelo próprio deus Anhangá.
— Saia das sombras, covarde!! — Júlio gritava com fúria e seus olhos estavam numa cor toda cinza.
— D-desculpa amor. — Kaolin se assustou e se mostrou para Júlio.
— Amor!! Desculpe, mas me assustei. — Júlio guardou a espada e seu olho voltou a cor original.
— Tudo bem, mas estava me deliciando com você no rio. — Kaolin tirou a roupa e o beijou. Ela era namorada de Júlio, sua beleza era admirável. Ela uma índia de cabelos negros, morena e com voz de mel.
— Não precisa se esconder para se deliciar comigo, quando você desejar meu amor... serei seu. — Júlio a levanta no colo e acaricia seu cabelo.
— Amor, perdi meu colar próximo ao covil da Cuca, você me ajuda encontrar. — Kaolin o beija e o seduz.
— Tudo que minha princesa desejar... assim farei. — Júlio acariciou seu corpo nu.
— Por favor amor, depois poderemos nos amar, mas tenho medo daquela poderosa feiticeira. — Kaolin o acariciava o abdômen.
— Poderosa feiticeira?! Cuca é uma bruxa que tem sorte que os deuses não a exterminam. — Júlio sorriu.
— Achas que Cuca não irá se vingar?! Ela não é boba. — Kaolin falou com uma voz metálica e sombria.
— Não sabia que você era fã da bruxa. — Júlio sorriu.
— Vá antes que eu me zangue!! — Kaolin falou quase gritando.
— Calma docinho é brincadeira. — Júlio sentiu a frieza dela.
— Vá!!! — Kaolin gritou com puro ódio.
— Vamos brigar por causa da Cuca?! — Júlio estava confuso.
— Desculpe delicioso filho de Tupã. — Kaolin o beijou o pescoço.
— Filho de Tupã?! — Júlio deu um passo para trás.
— Meu colar amorzinho. — Ela esfregou seu peito nu no dele.
— Você está estranha. — Júlio subiu em Aram. — Vamos, princesa. — Júlio a ajudou subir e partiram para o covil de Cuca.
A onça partiu em disparada pela mata e a mão de Kaolin ia descobrindo cada centímetro do corpo de Júlio, mas uma coisa ele achava estranho nela.
— Você está estranha. — Júlio sentiu a boca dela em seu pescoço.
— Sua pele! Seu cheiro me deixa louca!! — Kaolin o mordeu o pescoço.
— Ai!!! — Júlio caiu da onça-pintada.
— Chegamos no covil da rainha da selva. — Kaolin olhou admirado para a entrada do covil de Cuca.
— Você me mordeu!!!
— Acorde o sucuri da mãe do mundo!! — Kaolin tinha seu olho transformado numa cor acinzentado.
— Kaolin?! — Júlio puxa a espada amaldiçoada e aram mostra suas presas.
A sucuri que tinha o tamanho de um prédio de seis andares e poderia trucida a onça com apenas uma mordia desperta de seu sono profundo. O pior que ela sempre acorda em péssimo humor.
— Quem ousa acorda a filha de Cuca!! — A sucuri mostrou seus dentes e iria devorar Kaolin, mas aram pulou e a mordeu.
— Corre Kaolin!!! — Júlio foi correndo ao seu encontro.
— Se curve meu filho!! — Kaolin se transforma. A sua nova aparência é a de uma cabeça de jacaré com dentes tão afiados que pareciam lâminas, uma pele blindada e uma calda com espinhos poderosos.
— Tupã do céu...Cuca!!! — Júlio guardou a espada e começou a limpar a boca como se tivesse cheio de espinhos.
— Isso me humilhe. Não foi tão ruim!! — Cuca sorriu e seus dentes apareceram, pareciam presas de piranhas, mas bem maiores.
— Esqueci o seu poder de metamorfose. — Júlio ainda limpava a boca com nojo.
— Posso me transformar na sua amante... a caipora. — Cuca jogou todo seu veneno.
Júlio a olhou com ódio.
— O que fez com Kaolin?! — Depois do susto, Júlio puxou a espada e raios cortaram o céu com tamanha violência que a sucuri se escondeu na caverna.
— Sucuri imbecil, sua missão é me ajudar!! — Cuca gritou.
— Desculpe mãe, mas tenho pavor de Tupã!! — A sucuri tremia de medo.
— Se você machucar uma unha de Kaolin, eu te mato bruxa maldita!!! — Júlio colocou sua espada na garganta de Cuca e os raios aumentaram.
— Como desejava ver essa lâmina em ação!! — Cuca sentia sua garganta queimar. Anhangá te deu depois de trepar com sua filha?! Tupã aceitou?! — Cuca riu alto.
— Pagaras pela ofensa, bruxa de merda!!! — Júlio acertou o pescoço de Cuca, mas ela desviou com a calda.
— Achas que tem força para me matar?! Filho do deus!! Sou a serva, mas não aceitarei malcriação de um mestiço!! — Cuca deu um rugido tão alto que aram se curvou.
— Tupã eu te invoco!!! — Júlio deu um grito tão forte que um raio foi lançado em sua espada, ele amorteceu e lançou um raio poderoso em Cuca, para ele desmaiar logo em seguida.
Parte 2:
Um homem de pele moreno, com um cocar amarelo na cabeça e com uma tanga marrom entra em uma tenda indígena. O homem beija uma mulher e acaricia seu rosto e a beija com paixão. O homem coloca a mulher numa posição mais confortável e tira a roupa, a mulher estava encantada pela tamanha beleza do homem. Ele tinha a aparência de um índio e a mulher era da tribo do eixo.
— Eu o amo!! — A mulher beija com paixão o índio e acaricia seu cabelo que tinham cheiro de terra molhada.
O homem nada fala e acaricia sua coxa, passa a mão de forma firme em sua perna e a índia morde o lábio entrando em puro êxtase. Ele beija seu pescoço e ela senti seu pelo se levantar, a mulher acaricia as costas musculosa do homem e por fim eles se amam.
— Que noite maravilhosa!! — A mulher acorda e passa sua coxa na virilha de seu amado.
O homem não é muito de falar e a beija com entusiasmo.
— Assim você me deixa louca!! — A mulher sobe em cima dele, mas dessa vez ele a retira de forma carinhosa.
O homem acaricia seu rosto e se levanta.
— Onde vás?! — A mulher se cobre com a coberta.
Ele nada diz e sai da tenda.
— Amor?! Amor?! — A índia se vesti e corre para fora, mas não encontra ninguém.
Júlio acorda de seu sono e estava amarrado colocado dentro da cela de Cuca.
— O que eu sonhei?! Quem era a mulher e o homem?! — Júlio se levantou o viu o covil vazio de Cuca.
— Júlio é você?! — Caipora estava caída no chão, próximo ao caldeirão de Cuca.
— Caipora!!! O que você está fazendo aqui?! — Júlio tentou socar a grade, mas estava muito bem fechada.
— A feiticeira disse que você estava em perigo e que precisava de ajuda para te salvar, eu não pensei duas vezes e vi correndo para o covil dela. A desgraçada armou uma armadilha e me acertou uma pancada na cabeça e eu desmaiei. — Caipora massageava as têmporas.
— Bruxa traiçoeira!! Caipora me ajuda sair. — Júlio socava com mais força a grade.
— Tudo bem, mas não tenho a chave... pera, tem uma pontinha brilhando atras daquela pedra ali. — Caipora pegou a chave e abriu a cela onde estava Júlio.
— Obrigado. — Júlio a abraçou com felicidade.
— Eu quero um beijo. — Caipora fechou o rosto.
— Nós já tivemos essa conversa caipora, eu tenho namorada e preciso encontrá-la. — Júlio corou.
— Ela que vai para o inferno!! Aliás, ela é filha do rei infernal mesmo. — Caipora riu.
— Caipora eu não quero brigar com você.
— Eu não ligo, posso ser sua amante. — Caipora tirou a roupa.
— Que?! Quem te contou de amante!!
— A Cuca disse que os humanos tem amantes e explicou como funciona, eu não me importo.
— Uau!! Você está mais bonita... quer dizer, não!! — Júlio se virou.
— Um beijo e eu me conformo. Posso ajudar a encontrar a índia que te roubou de mim. — Caipora cuspiu.
— Kaolin é o nome dela.
— Ok, mas meu beijo. — Caipora ainda estava nua.
Júlio a beijou e Caipora obviamente estava com intenção de algo mais e acariciou o abdômen sarado de Júlio com ferocidade. Ela beijou sua nuca, mas Júlio a segurou.
— Quero mais!! — Caipora continuava se esfregando nele.
— Não!! Preciso encontrar Kaolin. — Júlio a afastou com a mão.
— Certo!! — Caipora fechou o rosto e se transformou em um uiraçu. O animal deu uma bicada no braço de Júlio e partiu voando com velocidade pela caverna.
— Quase esqueci do poder dela de se transformar em qualquer animal de seu habitat. — Júlio tocou na pequena ferida que o pássaro o deu.
— Olha só, os pombinhos quase se entenderam. — Cuca saiu de trás de uma pedra.
— Tinha que ter o dedo podre da bruxa!! — Júlio falou com raiva.
— Gostou do sonho? — Cuca sorriu e tinha a sua forma original.
— Não entendi o contexto do sonho. — Júlio ficou confuso.
— Simples. O homem é seu pai e a mulher sua mãe. — Cuca jogou uma cabeça humana dentro do caldeirão.
— Tratando de você nada é simples, fale a verdade!! — Júlio pegou a espada.
— A moleque, guarde essa espada para se não machucar. — Cuca pegou alguns olhos humanos e mastigou, como se fossem balas.
— Fale!!
— Claro, sou a escrava dos deuses. — Cuca massageou as têmporas. — Essa informação tem um preço.
— Eu posso conseguir a força!! — Júlio pegou seu arco de ouro e puxou a flecha flamejante e mirou na testa de Cuca.
— E lá vamos nós... Atire!! — Cuca continuava a mexer a sopa no seu caldeirão.
— Toma!! — Júlio disparou, mas ela quebrou a flecha com a pele blindada de seu braço.
— Vai fazer uns trabalhos para mim ou quer tentar algo diferente? — Cuca fala com bastante calma e continuava mexer em seu caldeirão.
— Isso foi bem humilhante, mas eu aceito fazer um trabalho. — Júlio sentou em um banco feito de ossos humanos.
— Vai ser meu mensageiro ou melhor irá cobrar dividas que essas porcarias pedem, mas não pagam. — Cuca pegou um pergaminho de pele humana e abriu para Júlio ver.
— Que?! cinco trabalhos é muita coisa!! — Júlio olhou para a lista.
— Um favor pelo outro.
— É se esse sonho for inventado.
— Eu dou minha palavra que não é. — Cuca falou orgulhosa.
— Sua palavra vale menos que a palavra do corpo-seco.
— Você não que me ver com raiva. — Cuca mostrou os dentes em tom de ameaça.
— Eu não quero te ver nunca.
— O engraçado que eu te ajudei na invasão contra a tropa de Castelo. — Cuca pegou mais alguns olhos humanos e comeu.
— Eu faço, mas o sonho deverá ser esclarecido. — Júlio se levantou.
— O primeiro trabalho é cobrar uma divida daquele moleque travesso. — Cuca cuspiu no chão.
— Quem?!
— A praga do saci-pererê.
— De novo ele, você já não tinha pedido para eu roubar uma lagrima dele.
— Dessa vez quero que de uma surra nele e faça respeitar o limite da fronteira. Fizemos um acordo e o canalha por vezes invadiu minhas terras. — Cuca falou com cólera na voz.
— Tudo bem e o segundo?
— Leve isso. — Cuca entregou uma pena vermelha de um cocar indígena.
— Para que eu vou querer uma pena?! — Júlio estava confuso.
— Não seja idiota! Isso é uma pena magica e eu irei falar com você por meio dela.
— Claro....
— Vá atras do demônio que se chama de saci-pererê e faça a praga respeitar o limite acordado entre nós. — Cuca disse.
Parte 3:
Júlio entra no território onde Cuca apontou que seria o território pertence ao saci-pererê. O sol começa a sair mas as arvores centenárias da Amazonia encobrem os raios do sol. Júlio montado sobre sua onça aram vai trotando e observando cada pequeno detalhe, pois uma emboscada é possível. Júlio observa uma sombra atras da arvore e pega seu arco de ouro e puxa a flecha flamejante.
— Olha o que o vento trouxe, o servo da bruxa!! — Um homem afrodescendente, com chifres pontudos, um gorro vermelho em sua cabeça, uma tanga vermelha cobrindo até o joelho, um cinturão de caveiras humanas em sua cintura, nas suas costas um porrete enorme e uma corrente flamejante que ele segurava em mãos. — Não sou mais aquele moleque que você me tirou uma lagrima, sou um homem pai de família. — O saci-pererê acertou sua corrente com violência no chão.
— Pai de família?! — Júlio deixou escapulir uma risada.
— Achas engraçado?! — O homem o olhou com puro ódio.
— Não, me desculpe.
— Eu te odeio e desejo sua morte mais do que nunca, mas minha mulher me ensinou um pouco de regras. Logo... saia das minhas terras ou irei partir seu crânio e usarei como copo, seus olhos serviram como balas e sua pele usarei como casaco. — Saci-Pererê implorava para ele ficar.
— Eu adoraria ver ela te ensinar modos. — Júlio riu de novo.
— Vou te mostrar o que é engraçado. — Ele disparou um dardo em Júlio.
— Ah! Ah! Ah! — Júlio caiu no chão se contorcendo de tanto ri. — Para... Ah! Ah! Ah — Júlio sentia sua barriga doer.
— Agora irá morrer!! — Ele pegou seu porrete e esmagaria o crânio de Júlio como se fosse uma melancia, mas aram mordeu seu braço.
— Ah! Ah! Ah! — Júlio pegou o elixir e bebeu, fazendo a risada passar.
— Onça de merda!! — A lenda pegou sua corrente flamejante e acertou as costas da onça, fazendo ela cair machucada.
— Aram!!! — Júlio pegou seu arco e disparou varias flechas e uma dela acertou de raspão o peito dele.
A lenda disparou vários dardos do riso, mas Júlio conseguiu desviar de todos. O filho do deus acertou de raspão o braço da lenda e queimou a pele dele.
— Isso dói muito!!! — O saci-pererê uivou de dor.
— Não precisa lutar, só respeite o tratado que fez com Cuca. — Júlio disse com a espada em mãos.
— Aquela bruxa que vá para o inferno!! — Ele se levantou e acertou a corrente em chamas na coxa de Júlio.
Júlio se arrastou e disparou várias flechas, mas saci desvio de todas, a lenda acertou um soco quando Júlio tentou levantar. A lenda levantou o homem com a força do vento e estava o enforcando.
— P-por favor! — Júlio estava ficando sem ar.
— Mande um abraço para Anhangá quando o encontrar. — A lenda apertou mais forte e quando Júlio começou ver tudo escuro uma flecha acertou as costas de saci-pererê.
— Deixe-o em paz demônio!! — Caipora surge montada em uma queixada gigante e furiosa.
— Vai trair seu irmão de luta para se juntar a um humano nojento!! — A lenda arranca fora a flecha.
— Não ouse questionar minha decisão, demônio!! — Caipora colocou sua lança de ouro na garganta dele e o porco-espinho o derrubou no chão.
— Você viu o que essas pragas causaram na grande guerra. A espécie dele são a doença desse mundo e não podemos ficar nas sombras vendo eles destruírem o planeta. — O saci-pererê apontou para Júlio.
— Enquanto o imbecil ficava se escondendo na floresta, os índios lutavam pela floresta. — Júlio sentiu seu coração disparar.
— Sua espécie!! — A lenda se levantou.
— Enquanto você se escondia. Cuca, caipora, curupira e os índios lutavam bravamente para expulsar os invasores!! — Os raios começaram a cortar os céus com violência.
— Júlio, calma. — Caipora olhava para os céus.
— Não somos todos iguais e você não lutou, preferiu se esconder como um covarde!! — Um raio explodiu uma arvore ali próximo.
— Júlio!!! — Caipora gritou e tirou Júlio do transe.
— Oi?! — Júlio sentiu tontura e aram amorteceu sua queda.
— Eu não gosto de você, mas peço desculpa por generalizar os humanos. — Saci-Pererê disse.
— Ok. Pode respeitar o acordo com Cuca?
— Isso não te diz respeito moleque e não lute uma guerra que não é sua!! — Saci invocou um tornado e iria embora, mas Júlio o segurou pelo braço.
— Posso te contar minha história? — Júlio falou quase implorando.
Saci-Pererê olhou com irritação para caipora.
— Por favor! — Caipora deu uma força para Júlio.
— Claro, o que a rainha da selva não pede que meras lendas comuns não fazem. — O sarcasmo ficou evidente na voz do saci.
— Lembre-se que eu ajudei procurar seu filho na mata, nada pedi. Ajudei varias vezes você e nada pedi. — Caipora fala.
— Eu sei, fale filho do homem. — Saci fez um banco com a força do vento e sentou.
— Cuca criou um sonho e esse sonho revela muito da minha história, porem ela exigiu cinco trabalhos que eu tenho que realizar.
— Um deles é eu respeitar as fronteiras?!
— Sim.
— Eu tenho duas coisas para eu falar com ela...
— Estou ouvindo.
— O primeiro é vai a merda Cuca. — O saci cuspiu no chão.
— E o segundo?! — Caipora o olhou com irritação.
— O segundo rainha da selva é que irei respeitar o tratado com a bruxa. — Saci se levantou. — Posso ir, majestade?! — O sarcasmo veio novamente.
— Pode. — Caipora desceu de sua queixada.
Saci-Pererê criou um tornado gigante e desapareceu.
— Eu encontrei sua humana. — Caipora falou com voz de nojo.
— Fale!! — Júlio não escondeu o entusiasmo.
— Ela está na tribo dela e a Cuca nunca fez contato realmente com Kaolin.
— A única coisa agora que me prenda a esse acordo é o sonho. — Júlio sentiu a frieza de caipora.
— Faça como achar melhor, eu já cumpri o meu dever. — Caipora subiu em sua queixada.
— Qual o motivo da frieza?! — Júlio falou.
— Só sirvo para fazer tarefas e salvar o seu pescoço, mas Kaolin que toma seu coração!! — O cabelo de caipora começa a ficar em fogo mais ardente.
— Eu te amo, mas como amiga.
— Eu não sirvo, pois não sou humana é isso, filho de Tupã?! — O cabelo de caipora fica em uma coloração mais escura.
— Temos que ter essa conversa novamente?!
— Kaolin é uma filha da...
— Opa!! — Ele a tampa a boca.
— O que você viu naquela índia?! — O fogo na cabeça de caipora fica tão alto que acerta um pássaro é ele cai no chão.
— Olha o que você fez caipora, matou o pássaro!!
— Não!! — Caipora vai até o pássaro e passa magia sobre ele. O animal se levanta e volta a voar.
— Está mais calma? — Júlio a olha com cuidado.
— Eu te amo e não como amigo!! — Caipora vai até a margem do rio ali próxima.
— Desculpa. — Júlio a abraça.
— Tudo bem. — Caipora acaricia o rosto dele e o rouba um beijo.
— Você é incorrigível. — Júlio ri alto.
— Eu respeito, mas não irei desistir de você, meu príncipe.
Parte 3:
Júlio anda pela mata em sua onça-pintada e percebe a pena que ele carrega começa a tremer em sua cintura. O índio pega a pena e não sabe muito como se comunicar com Cuca.
— Olá filho do deus. — Cuca fala pela pena. — Pode falar, estou ouvindo.
— Cumpri o primeiro trabalho, agora o segundo... fale bruxa!! — Júlio ia trotando em cima de aram.
— Como desejar, filho de Tupã. — Cuca lambeu os lábios. — O próximo trabalho é caçar uma doce criança.
— Eu não mato crianças!! — Júlio parou de trotar e desceu de aram.
— Não se iluda, tolo. A pestinha com seu jeito de menina parece pura e inocente, mas ela é uma morta-viva e se transforma quando é ameaçada. Ela adora sangue e devora suas presas com ferocidade.
— Uma morta-viva?! — Júlio se assustou.
— Ela era uma das minhas melhores aprendizes, porem ousou me desafiar e deve pagar pela ousadia. — Cuca falou com raiva.
— Agora virei seu mercenário?! — Júlio passou a mão no rosto.
— Você deu sua palavra!! — Cuca gritou.
— Eu não mato criança porra!! — Júlio retrucou.
— Ela não é uma criança, tem a aparência de uma e logo você verá a praga em sua forma original. — Cuca sorriu de forma doentia.
— Qual o nome?! — Júlio subiu novamente em sua montaria.
— Mani ou como os humanos a chamam a lenda da mandioca. O engraçado que nós não somos lendas e logo eles irão descobri. — Cuca mexia seu caldeirão.
— Ela não é morta-viva e sim uma menina que morreu sorrindo e enterrada na oca. As lágrimas da mãe geraram uma planta, a mandioca. Essa lenda é famosa em minha tribo. — Júlio falou orgulhoso.
— Isso é o que as lendas dizem, mas a realidade não é essa. A mãe fez um pacto com Anhanga e entregou a filha como parte do trato para o deus infernal . Porém ela se arrependeu e enterrou uma mandioca enrolada em um pedaço de pano, como se estivesse dando o bebe ao deus. A terra o devorou, mas o gosto não era de carne e sim de uma planta. O deus furioso lançou uma maldição no bebe, que seria lançado a vida, mas como um demônio criança e iria se alimentar de carne humana, uma coisa que ela o negou. — Cuca provou a sopa de cérebro humano, uma iguaria que era famosa entre as feiticeiras locais.
— Nossa!! — Júlio fez uma expressão de pavor pelo relato da história.
— Faça a aprendiz de feiticeira se curva a sua mentora e não aceitarei nova malcriação.
— Você quer que eu a traga para você?!
— Manda-a voltar, pois ainda não está pronta para ser uma feiticeira.
— Ela é uma criança!!
— Essa nunca poderá sair da forma de menina. Estou tentando convencer Anhanga, mas o deus tem um temperamento difícil. — Cuca ficou acolhida como se estivesse esperando uma resposta de Anhangá, mas nada aconteceu.
— Ela não é uma morta-viva?!
— Ela é uma aprendiz de feiticeira, mas ama carne humana fresca e adora sangue humano. Quem não gosta. — Cuca riu alto.
— Então ela é um mostro cociente?!
— Não é um mostro e sim uma aprendiz de feiticeira. — Cuca tinha o tom de voz aumentado.
— Claro. A minha missão é da uma surra nela e manda de volta a seu covil?
— Sim.
— Fácil. — Júlio riu.
— Isso é o que veremos.
Júlio se encaminha para onde Cuca disse que mandioca ficava a noite. A lua enorme seria testemunha ocular daquela batalha épica. Ele vê pegadas pequenas como se fossem de criança e desce de sua onça-pintada. O chão estava lamacento e ele podia escutar choros bem baixinhos... choro de uma menina assustada. Ele olhou para próximo do rio e a cena era perturbadora. A menina vestida com uma saia vermelha e com uma mandioca em sua mão, devia ter no máximo oito anos.
— Menina, o que faz sozinha na mata essa hora?! — Júlio aponta seu arco para a menina.
— E-estou com medo. — A menina estava com muito sague em seu corpo.
— Tupã do céu!! Quem fez isso?! — Júlio correu, mas parou e apontou seu arco novamente.
— E-eu estou muito machucada. — A menina caiu no chão.
— Tupã!!! —Júlio correu e deixou seu arco e flecha longe.
Júlio colocou a menina em seus braços e sacodia com violência.
— Acorda menina!! — Júlio está com a expressão de pânico.
— P-posso te pedir um favor? — A menina fala com dificuldade.
— O que desejar. — Júlio está apavorado.
— Desejo provar seu sangue!! — A menina o morde o braço com força.
— Filha da puta!!! — Júlio a acerta um soco e cai para trás.
— Nossa!! Que sangue delicioso!! — A criança se lambe toda, mas sua aparência não era mais de uma doce menina.
— Eu vi a mando da Cuca!! — Júlio olha o estrago que a mordida dela tinha feito em seu braço.
— Não sirvo mais aquela mandona e sim fundarei minha própria ordem de feiticeiras!! — Mandioca tinha o rosto desfigurado e seu rosto tinha dentes enormes, algo dantesco naquela boca infantil. A sua aparência é a de uma índia pequena, mas as garras e os dentes enormes o faziam assustadora.
— Menina não fale besteira!! — Júlio sentia seu braço latejar.
Mandioca correu tão rápido que acertou suas garras no braço esquerdo de Júlio. Ele uivou de dor. Aquelas garras tinha um poder de destruição bem doloroso. Ele percebeu que não teria acordo e disparou as flechas e uma delas acertou as costas de mandioca, o mostro gritou, mas a voz ainda era a de uma criança, o que fez Júlio sentir remorso.
— Isso dói moço. — Mandioca caiu no chão com forma de criança.
— Desculpa, mas você não colabora. — Júlio abaixou o arco.
— Eu te ajudo, mas antes tire essa flecha das minhas costas, sou uma criança. — A menina chorava.
— Sem truques?! — Júlio apontou a flecha no peito de mandioca.
— Buáááááááááa!!! — Mandioca chorava tão forte e um choro tão infantil que Júlio não resistiu e foi ajudar a menina.
— O senhor é um homem bom. — A menina secou as lagrimas com a folha que Cuca tinha dado para ele.
— Está se sentindo melhor.
— Ficarei quando provar seu sangue novamente. — Mandioca acertou a garra na barriga dele e o mordeu no pescoço.
— Aaai!! — Júlio caiu no chão muito ferido.
— Esse sangue é muito diferente dos que estou acostumado a me alimentar. Essa carne... delicia. — Mandioca arranca a orelha dele fora.
— Aaai — Júlio não consegue tirar o mostro de cima dele e seus ferimentos o fazem não conseguir se mexer.
O mostro se lambuja todo com o sangue e come a carne dele como se estivesse comendo uma iguaria. Aquela batalha seria fatal, mas aram pulou sobre o mostro e o mordeu na nuca, a jogando longe. A onça uivou de forma feroz para mandioca que caiu no chão. Aram correu e mordeu o rosto de mandioca, o arrancando parte do lábio. Essa batalha entre aram e o mostro foi ideal para Júlio beber o elixir de caipora. O elixir o restaurou a força, o ferimento na barriga foi curado e sua orelha estava novinha em folha.
— Erro fatal mostro!! — Júlio se levantou e puxou sua espada venenosa.
— Como você está vivo?! — O mostro se levantou uivou um grito de ódio para aram.
— Obrigado aram, mas deixe que eu termino com esse bicho. — Júlio correu em direção a lenda com sua espada em mãos.
O mostro correu em sua direção com as garras para frente e tentou acerta a barriga de Júlio, mas o homem desviou com facilidade. Ele cortou o braço de mandioca fora e o mostro caiu no chão apavorada.
— Por favor moço. — Mandioca voltou a sua forma infantil.
— Bruxa de merda!! — Júlio colocou a faca na garganta dela.
— Isso queima senhor, não iria machucar uma criança. — A menina com o braço decepado faz expressão de choro.
— Desgraçada!! Volta para a forma de mostro. — Júlio não conseguia matar ela, mesmo sabendo que aquilo era um mostro.
— Buáááááááááa!! — A menina chora.
— Tupã do céu. — Júlio tirou a espada da garganta de mandioca.
— Dói muito tio!! — Mandioca coça o corte que levou boa parte de seu braço esquerdo.
— Você não faz o que eu mando!! — Júlio assobiou e aram pulou no pescoço dela.
— Eu estou com medo tio. — A expressão de mandioca era de uma criança assustada e ele não conseguia nem a encarar.
— Eu não consigo te matar, mas aram é só eu ordenar.
— Tudo bem, temos um trato.
— Volta para a porra da aparência original ou eu ordeno que aram o rasgue a garganta. — A onça-pintada parecia ter entendido o recado, pois mostrou as presas da boca.
— Claro... tio. — A menina soltou um riso irônico. A mandioca voltou a sua forma original de mostro.
— Cuca, fale com sua aprendiz.
— Boa luta em enganar ele. — Cuca riu. — Porem acabou a festa e volte para casa ou irei mandar Anhangá devorar suas tripas.
— Não!! Por favor, tia. — O mostro voltou a aparência de menina e ficou de joelho para a pena.
— Ela não está te vendo, mostro idiota. — Júlio cuspiu no chão.
— Fale com Anhangá em me deixar com esse poder de menina mesmo. Entendi hoje que essa é uma arma poderosa. — A menina olhou para Júlio e fez uma cara de pidona. Os seus enormes olhos negros, hipnotizaram Júlio.
— Sim... — Júlio falou em hipnose.
— Que?! — Cuca ficou confusa.
— Ah! Ah! Ah! — A menina riu de forma travessa.
— Diaba. — Júlio cuspiu no chão.
— Tio, jogue essa sua bebida no meu braço. — Mandioca apontou para o elixir dele.
— Só serve para filhos dos deuses.
— Hum... Por isso seu gosto era especial. Eu irei para Cuca, mas antes quero meu braço de volta.
— Como iremos restaura?!
— Uma mordida em sua carne irá restaurar minha força e o braço também. — A menina lambia os lábios.
— Nem ferrando, sua traidora de merda!! — Júlio apontou a espada em sua direção.
— Se ela te trair eu falarei com Anhangá! — Cuca falou com firmeza.
— T-tudo bem. — Mandioca tremeu as pernas.
— Morda meu braço, mas que seja uma mordida pequena. — Júlio o deu o braço.
Mandioca o mordeu o braço e bebeu o sangue com tamanha vontade que logo em seguida lambia os lábios para sugar as gotas que estavam em seu lábio. O braço voltou e a menina parecia nova em folha.
— Se tentar me trair...
— Não irei. — A menina lambia a mão que ainda contia o sangue. — Irei voltar para a Cuca. — Adeus, delicia. — A menina correu tão rápido que Júlio logo a perdeu de vista.
Parte 4
Júlio caminha pela floresta montado sob sua montaria e fiel amiga. Aquele sonho que ele teve, mesmo sendo uma fração pequena da visão o fez sentir muita dúvida. O homem era Tupã ou seu pai de verdade? Quando esse precisou de ajuda o deus sempre o ajudou, jamais negando ajuda e essa ligação entre eles mais tarde Júlio entendeu por seu pai ser filho do deus e ele como neto, acabou adquirindo os poderes, porem seu pai jamais pareceu ter poderes especiais. Ele desce da onça e decidiu fazer uma cama improvisada com as folhas das arvores, já era tarde e ele estava cansado.
— Aram, faz a ronda. — Júlio falou de forma firme para a onça-pintada e ela saiu para ver se não tinha nada de perigo.
Júlio começou a preparar a cama improvisada, mas sentiu uma lança tocar sua nuca.
— Eu me entrego. — Júlio ergueu e sentir seu inimigo atras dele, de leve olhou para sua espada.
— És um rapaz muito bonito. — A mão do inimigo a apalpa as nadegas.
— Kaolin!! — Júlio se virou e a beijou com paixão.
— Olá, meu príncipe. — Ela deseja esse beijo mais que tudo.
— O que faz aqui essa hora!? Como me encontrou!? — Júlio acariciou seu belo rosto.
— Eu estava morta de saudades. — A índia pula em seus braços.
— Espera!! Não é a Cuca!? — Júlio a empurra e a olha desconfiado.
— Que!? — Kaolin o olha assustado.
— Longa história. — Júlio sabia que não era a feiticeira e beijou Kaolin com paixão.
— O que Cuca fez?
— Ela se disfarçou de você, mas imita sua aparência e não seu jeitinho irresistível. — Júlio sorriu para ela.
— A miserável foi até minha aldeia desfaçada de um guerreiro da tribo Caapuã e disse que você tinha sido atacado por um grupo de mercenários. A tribo pirou, mas o tal guerreiro disse que Júlio matou todos e disse para chamar Kaolin.
— Realmente eu desejava mais do que nunca falar com você. — Júlio cheirou o cabelo macio e perfumado de Kaolin.
— Eu também. — Kaolin acariciou o peito dele.
— Realmente estou fazendo cinco trabalho para a bruxa.
— Entendo...
— Cuca e eu tivemos um combate e eu a acertei com um raio, para logo em seguida perder a consciência. Sonhei com um homem deitado com minha mãe em sua oca, mas quem era o homem? — Júlio olhou para aqueles belos olhos castanhos e seu coração disparou.
— Seu pai?!
— A duvida que me mata aos poucos e para desvendar esse sonho Cuca cobrou um valor.
— Os trabalhos... — Kaolin acariciou o abdômen definido dele.
— Os cinco trabalhos. — Júlio deitou na cama e chamou Kaolin com a mão. A lua em um tamanho vultuoso fazia aquela noite perfeita para namorar.
— Quantos meu namorado já realizou? — Kaolin se deitou e colocou sua cabeça no peito dele.
— Já realizei dois trabalhos. — Júlio fica nu e Kaolin o imitou.
— Eu a amo mais que tudo, daria minha vida para salvar a sua. — Júlio a beijou.
— Eu lutaria com Anhangá se ele me proibisse de ficar com você. — Kaolin passa sua mão na coxa de Júlio.
— Melhor não invocar seu pai em vão. — Júlio deixava sua mão descobri o corpo daquela índia graciosa.
— Nada vai me separa do meu príncipe encantado. — Kaolin sentia seu pelo se levantar e acariciava o belo índio com paixão.
Eles se beijarão e a noite fresca, com a lua enorme e o barulho do cantar dos pássaros o fizeram a noite de amor perfeita.
O dia amanheceu e Júlio acordou e Kaolin continuava dormindo em seus braços, mas o casal tinha visita.
— Ahhh!!! — Júlio gelou o coração.
— O que houve? — Kaolin acorda com expressão de sono.
— A desgraçada da Cuca!! — Júlio se vestia as pressas.
— Agora sei o motivo de Kaolin ter se apaixonado por você. — Cuca riu de forma perversa.
— Cuca, o que faz aqui? — Kaolin se desperta e fala ainda nua.
— Espionar a virilidade do filho do deus. — Cuca piscou para Júlio.
— Caipora, agora Cuca... — Júlio olhou para o céu.
— O que tem caipora? — Kaolin o olha.
— Quem?
— Você falou o nome de caipora. — Kaolin o olha com irritação.
— O meu interesse é meramente culinário, mas caipora... — Cuca riu.
— Calada bruxa!! — Júlio o apontou a espada.
— Você e caipora... — Kaolin o olhou com nojo.
— Mentira dela é invenção, namorar aquela lenda. Eu só tenho olhos para você. — Júlio a beijou.
— Perfeito. — Cuca riu de forma maligna. — Vamos ao trabalho, filho do deus. — Cuca pegou o pergaminho.
— Fale!! — Júlio acariciava o cabelo de Kaolin.
— Seu trabalho é impedir que Curupira mate um grupo de garimpeiros. Ele se encaminha para lá nesse momento.
— Tudo bem, eu o convenço e depois?
— Curupira não gosta de você, ele te suporta e sabe o que ele mais detesta? — Cuca olhou de forma seria para ele.
— Não faço ideia.
— Ele detesta ser contrariado e a única que consegue controlar o gênio dele é caipora.
— Podemos fazer um acordo.
— Acordo com curupira?! — Cuca sorriu.
— Chega de conversa... Preciso ir Kaolin. — Ele a beija e se despede.
— Eu quero os garimpeiros vivos. — Cuca disse.
— Como desejar. — Júlio subiu em aram e partiu.
Ele foi disparado em direção ao garimpo ilegal e sabia que Curupira odiava os humanos! Ele não ia perdoar e Júlio precisava ser o mais rápido possível, mas um grito de pavor surge da mata ali próxima.
— Corre, o demônio está furioso!! — Um garimpeiro corria de forma desesperada.
— Cão maldito!! Destruí suas terras e agora vieram acabar com minha!! — Curupira tinha o cabelo em fogo ardente.
— Corram por suas vidas!! — Um garimpeiro gritou, mas curupira jogou uma bola de fogo em sua cabeça, a explodindo.
— Minha nossa senhora!! — O líder dos garimpeiros olha para o corpo decapitado em pavor.
— Curupira, não!! — Júlio chegou e desceu da onça.
— Ah! Ah! Ah! Tinha que ter o dedo podre de Júlio. — Curupira tinha seu olhar em puro ódio.
— Não faz isso Curupira. — Júlio pegou a espada amaldiçoada.
— Eles estão destruindo meu território, estão matando o bioma. — Curupira fala com ódio na voz.
— Vou levara eles para Cuca.
— Eu decido o que fazer com essa raça nojenta!! Os humanos, eles matam o planeta e acham que não terá consequências.
— Nem todos os humanos são iguais e você sabe disso. — Júlio se aproxima dele.
— A grande guerra que quase causou a destruição da Amazônia, foi humano contra humano. — Os olhos de curupira pareciam bolas de fogo.
— Foi índio contra mercenários. Nós lutamos juntos curupira... lembra?! — Júlio fica a pouco metros do “amigo”.
Curupira parecia está se acalmando e o cabelo estava ficando em um tom mais claro.
— O demônio! Sai fora ou vai levar chumbo!! — O líder dos garimpeiros aponta sua pistola para curupira.
— Por Tupã!! — Júlio bateu a mão no rosto.
— Como desejar. — Curupira o acerta com uma bola de fogo tão grande que explode o homem. — Ah! Ah! Ah! Vou matar esses selvagens de merda!! — Curupira avança e rasga a garganta de um garimpeiro.
— Para!! — Júlio dispara uma flecha de aviso.
— Como ousas?! Vai usar o arco e flecha que eu te dei para me atacar?! — Curupira o olhou com ira.
— Não posso deixar matar esses homens, Cuca pediu.
— Que a Cuca vai para o inferno!! — A lenda avançou, mas levou uma flechada flamejante na coxa.
— Traidor de merda!! — Curupira lançou uma bola de fogo em direção a Júlio.
Júlio disparou outra flecha, mas ele desviou com as garras. A lenda correu e acertou as garras em chamas no peito de Júlio, fazendo uma queimadura considerável. A criatura o acertou com o cabelo ardente nas pernas.
— Vai morrer como um servo de Cuca. — Curupira fez uma bola de fogo em suas mãos e quando ele ia da um soco em chamas, aram o rasgou o peito.
— Irás trair um protetor da floresta, onça de merda!! — Curupira levanta a onça e a joga contra uma arvore.
— Aram!!! — Júlio levanta em puro ódio.
A lenda lança uma bola de fogo próximo de Júlio e ele sai voando devido ao impacto. Curupira dispara varias bolas de fogo e duas acertam em cheio Júlio. A criatura corre com velocidade e iria rasgar a perna do homem, mas novamente aram se joga na frente e curupira atravessa sua garra na onça-pintada, fazendo o animal cair no chão bastante ferido.
— Aram!!! — Júlio se levanta e sente um ódio colossal em seu peito e os raios começam a cortar o céu com violência.
— Vai pagar por ferir mortamente minha amiga!! — Júlio acerta um raio poderoso em Caipora e a lenda sai voando, batendo as costas em uma arvore próximo. — Demônio de merda!!! — Júlio corta a perna da criatura com a espada venenosa e depois coloca a lâmina amaldiçoada em sua garganta.
— Júlio não mate meu primo!! — Caipora surge montada em sua queixada.
— Esse demônio matou minha onça. — Os olhos de Júlio estavam acinzentados.
— Por favor Júlio, não mate ele. — Caipora desceu da queixada e se aproximou devagar.
— Irá matar seu irmão de guerra por causa desses humanos de merda?! — Curupira sentia sua garganta queimar.
— Você esqueceu de uma coisa, eu sou um humano!! — Júlio gritou e um raio explodiu uma arvore ali próximo.
— Você duvida de ser filho do deus Tupã?! — Curupira tentou tirar a lâmina de sua garganta, mas levou um soco com tamanha violência na sua barriga que quase desmaio.
— Não mate minha família, você tem Kaolin e eu o tenho de família. — Caipora colocou a mão no ombro de Júlio.
— Cuidado caipora, Júlio está fora de si. — Curupira alertou a prima.
— Ele não iria machucar a sua lenda favorita. — Caipora o beija.
— Não. — Júlio larga a espada e os raios param de cortar o céu, o sol volta a aparecer no horizonte.
— Eu tinha certeza disso. — Caipora o beija novamente, mas Júlio a interrompe.
— Não faz isso ser pior do que já está. — Júlio fala com pena.
— Claro... — Caipora se afasta com expressão triste no rosto.
— Isso não faz eu deixá-los destruírem tudo que ver pela frente. — Curupira aponta para o grupo de garimpeiros que estavam correndo de um lado para o outro em pânico.
— Cuca e agora? — Júlio fala com a pena.
Quando ele terminou de falar a ultima palavra, a sucuri enorme pula do rio ali próximo e devora três garimpeiros com uma mordida só. Um garimpeiro corre, mas Cuca o rasga as tripas para fora e mastiga o homem ainda vivo.
— Delicia, mas falta tempero. — Guarde esses garimpeiros, pois mamãe vai temperar eles. — Curupira sorri para a sucuri com a boca cheia de sangue.
— Posso tia?! — Mandioca em forma de criança o olha com a expressão de pidona.
— Claro.
— Corre criança. — Um garimpeiro aponta a pistola para Cuca que sorri para ele.
— Tio, estou com medo!! — Mandioca tinha expressão de uma criança assustada.
— Não toque na menina, bruxa de merda!! — O garimpeiro seguro a menina nas mãos.
— Tio... — Mandioca forçou uma lagrima.
— Tudo bem pequena, nada de mal vai te acontecer. — O garimpeiro a coloca no colo.
— Posso te fazer um pedido, tio?! — A criança estava com a cabeça no ombro do homem.
— Vamos sair daqui menina, você está a salvo. — O garimpeiro sente um liquido quente cair em seu pescoço.
Mandioca morde o pescoço do homem com tamanha violência que ele não teve como reagir. O garimpeiro cai no chão e mandioca o rasga a barriga e arranca o fígado e o estomago.
— Delicia!! — A criança se lambuja com carne do homem.
— Minha nossa... — Caipora vomita.
— Estou satisfeito pelo fim dessas pragas. — Curupira sorri.
— Próximo trabalho, Júlio. — Cuca o olhou com a boca cheia de sangue.
— Qual o próximo trabalho?
— A lenda chamada Guaraná. Um filho de Tupã, mas esse sabe controlar muito bem seus poderes. — Cuca sorriu. — Pegue o fruto que ele mais ama e traga para mim.
Parte 5:
A onça-pintada parecia reclamar da constante velocidade que seu dono exigia que ela percorresse em pouquíssimo tempo. O penúltimo trabalho seria contra seu parente por parte de Tupã. O semideus chamado de Guaraná, mas diferente da doce bebida, a feiticeira disse que ele era bastante amargo. O trabalho seria pegar os olhos que ele plantava em seu jardim, devido a maldição lançada contra ele pelo deus Jurupari. Quando criança, o protegido de Tupã foi levado pela curiosa por ver uma planta diferente que ele nunca tinha observado. Ele foi até planta e a colheu, mas a planta tinha sido oferecida ao deus das leis. Jurupari furioso se transformou em uma serpente venenosa e o mordeu, fazendo o garoto morrer. O garoto era protegido por Tupã, devido aos pais serem devoto do deus e isso fez ele ficar furioso com Jurupari. A divindade das leis prometeu que plantaria uma arvore e dali surgiria o garoto e assim fez, mas os olhos não voltaram. Logo o protegido de Tupã deveria plantar o Guaraná. Assim que ele comesse o fruto seus olhos voltariam, mas de forma provisória, pois teria prazo de um dia. Logo o homem cresceu, mas sempre tendo que plantar novas sementes para colher o fruto. Júlio lembrando da história contada por Cuca foi se aproximando de um jardim muito florido e repleto de uma fruta que parecia olhos humanos.
— Como ousas entrar em meu jardim?! — Um homem com aparência de índio fala, mas suas orbitas oculares estavam vazias.
— Como sabe que estou aqui?! — Júlio fala.
— Tenho ótima audição. Responda ou acertarei um raio em você. — O índio se aproxima.
— Você não tem visão e não quero te machucar. — Júlio solta um riso de provocação.
— Seu imundo!! — Guaraná acerta um raio nele, que o jogo longe.
— Filho da puta!!! — Júlio sente uma dor nos nervos.
— Tupã eu te invoco!!! — Guaraná faz o chão emitir ondas de choque tão poderosas que Júlio é eletrocutado.
— Eu posso fazer isso?! — Júlio estava admirado.
— Ainda é desaforado!! — A lenda cria lobos guará formados por eletricidade e os animais correm em direção a Júlio e o morde, mas a mordida emiti choques e o homem perde a consciência.
Quando acorda Júlio estava preso em uma jaula.
— Preso novamente!! — Júlio soca a grade e leva um choque.
— Eu não aconselharia bater na grade, pois essa é elétrica. — Guaraná cuidava do jardim.
— Como pode ver sem os olhos?!
— Eu sei onde fica tudo e os olhos eu só uso quando extremamente necessário.
— Poderíamos conversa, irmão?
— Como disse? — Guaraná come o fruto e nasce olhos em sua orbita.
— Tenho sangue do deus Tupã em minhas veias. — Júlio olhou para os olhos da lenda.
— És muito fraco para ter o sangue do deus em suas veias. — Guaraná riu de forma provocadora.
— Lute comigo novamente e veremos se vai ser tão fácil. — Júlio o encarou com raiva.
— Eu não luto a algum tempo e uma segunda luta contra um saco de pancada vai ser bom. — Guaraná abre a cela. — Vou tirar os olhos para ficar mais fácil.
— Lute com os olhos ou Jurupari pode não gostar!! — Júlio sai da cela.
— Achas que isso me ofende? — Guaraná estala o dedo e um raio acerta Júlio, o jogando contra uma arvore.
— Já!!! — Júlio sente dores nas costas.
Guaraná cai na risada.
— Aram... ataca!!! — A onça-pintada surge e mostra as presas para a lenda.
— Como desejar. — Guaraná estala os dedos e invoca três onças elétricas que atacam ao mesmo tempo e explodem em aram, fazendo a onça-pintada perder a consciência.
— Matou ela!! — Júlio corre até a onça, mas leva uma corrente elétrica no peito e novamente vai ao chão.
Júlio não sabe como fazer para vencer essa batalha, mas não iria desistir. O homem dispara varias flechas e a lenda desvia de todas com muita facilidade, ele então se lança ao ataque e tenta ferir Guaraná com a espada a lenda desvia e o acerta um choque no peito, jogando-o novamente para trás.
— És uma piada!! — A lenda ri. — Deve ser uma vergonha para sua mãe, ter um filho tão tolo.
— Não ouse falar o nome da minha mãe!!
— Olha... parece que toquei em um tema delicado. — Guaraná o acerta mais um choque no peito e Júlio faz um esforço para não desmaiar.
— Minha mãe está morta. — Júlio com muito esforço se levanta.
— Deixa eu adivinhar, ela morreu por sua culpa.
— Infeliz!! — Júlio corre em direção a ele e acerta de raspão a perna, a lenda sente a perna queimar.
— Que espada é essa?! — Guaraná olha para a ferida estranha na perna.
— A espada que vai te matar. — Júlio acerta o braço da lenda.
Guaraná se levanta e invoca os lobos que iam atacar Júlio, mas ele desvia e sobe em cima da arvore.
— Covarde de merda!! Sua mãe teria vergonha de você. — Guaraná grita.
— Tupã eu te invoco!! — Júlio desce da arvore e um raio potente como nunca existiu acerta a espada dele e o homem dispara o raio em Guaraná para tudo ficar branco em seguida.
Júlio acorda e vê a lenda ainda desmaiada ou será que ele o matou. Tupã ficaria furioso, mas foi legitima defesa. Ele se aproxima e coloca a mão próximo a seu nariz... senti a respiração da criatura. Júlio o arrasta para dentro da cela onde guaraná o colocou e o fecha lá dentro. Ele vai até o jardim e pega várias sementes da fruta que Cuca pediu.
— Parece que és mesmo parente de Tupã. — A lenda fala.
— Sou neto. — Júlio continua pegando as sementes.
— Por favor não leve toda a semente, preciso delas.
— Não sabe onde está tudo?! Não sou uma vergonha para minha mãe?!
— Você invade minhas terras e ainda zomba da minha cegueira. O que querias que eu fizesse?
— Tudo bem, desculpe por zombar de sua cegueira. Isso não te faz inferior a ninguém. — Júlio se aproxima da grade.
— Poderia me soltar, eu te darei alguns frutos, mas deve explicar o motivo. — A lenda disse.
— Ok. — Júlio o soltou e Guaraná sentou em um banco para ouvir a história.
— Tenho que fazer cinco trabalhos para Cuca e ela me prometeu revelar um sonho que eu tive.
— Sonho?! — Guaraná estava confuso.
— Eu tive um sonho que minha mãe estava deitada com um homem e seria esse meu pai humano ou o deus?!
— Obvio que você é filho de Tupã. — Guaraná fala de forma sincera.
— Eu também acho, mas a prova definitiva é esse sonho e a bruxa me deu o preço.
— Tudo bem, leve as frutas. Eu já estou acostumado com a cegueira mesmo. — Guaraná deu de ombros.
—Não é isso irmão. Tenho que fazer cinco trabalhos para ela e o quarto e pegar algumas sementes da fruta que você planta.
— Pode pegar. — Guaraná o sorriu de forma amigável.
— Obrigado e saiba que sempre terá um irmão aqui na floresta. Sempre que passa por perto, virei te fazer uma visita.
— Uma merda fica sozinho nessa mata. — Guaraná o abraçou. — Sempre terá um lugar em minhas terras irmão.
Parte 6:
Júlio se encaminha para a preparação do seu último trabalho, pega o elixir e bebe. A pena começa a tremer e Cuca fala.
— Quase me emocionei. — Cuca fala com alto tom de sarcasmo.
— Uma coisa que você talvez jamais descubra o que é.
— Não entendi...
— Amar alguém, um sentimento de amizade ou até mesmo carinho por alguém. — Júlio fala com agressividade.
— Prefiro ver as pessoas como interesse muto, nada mais.
— É triste não ter sentimentos.
— Próximo trabalho, filho do deus. — Cuca disse.
— Você me chama filho do deus para me provocar ou por eu ser mesmo filho de Tupã?
— Eu gosto de ver essa cabeça pensar, posso ver os neurônios piscarem fervorosos. — Cuca fala com a voz seca.
— Qual o próximo trabalho?! — Júlio fala desanimado.
— Pegar uma gota do sangue da mula sem cabeça.
— Não tenho escolha mesmo.
— Vá e curta a noite, meu príncipe. — Cuca riu.
— Seu eu tivesse aí eu te acertaria um raio na cabeça.
— Ande logo... — Cuca desligou.
Júlio andou em disparada com aram pela mata, mas não foi muito difícil descobri o paradeiro da mula sem cabeça. O chão estava repleto de pegadas em chamas e o relinche da mula era bastante alto. Essa é uma lenda não consciente e isso significa que Júlio não precisava nem perguntar. Júlio dispara a flecha no flanco do animal que relincha de dor. O animal corre em direção a Júlio, mas ele acerta outra flecha, derrubando o animal no chão. A mula levanta e dispara varias bombas de fogo, derrubando-o da montaria. A lenda dispara várias bolas de fogo que queimam o braço dele. Júlio assobia e com os olhos pede para a onça-pintada se posicionar para um futuro ataque. Júlio desviar das saraivadas que o mostro dispara nele e a acerta a espada na pata do animal, fazendo-a cair. A besta levanta mancando bastante e como Júlio estava próximo lança o fogo em sua direção, mas ele se esconde atras de um arvore. A mula corre em sua direção e acende o fogo com poder.
— Aram... agora!!! — Júlio sente o calor do fogo.
A onça-pintada pula com as garras e os dentes a mostra e morde o flanco da mula, fazendo ela cair. A mula sem cabeça se transforma.
— Oi?! — Júlio olha para aquela mulher de pele clara e de cabelos loiros assustado.
— O-obrigada. — A mulher desmaia.
— Cuca!! Cuca!! Atende porra!! — Júlio fica desnorteado e não sabe o que fazer com a aquela mulher. Ele nunca tinha visto uma mulher com aquelas feições. — Não pode ficar pior que está. — Júlio em desespero pega o elixir e coloca uma gota em sua boca.
Por alguns minutos nada aconteceu, mas em seguida a mulher acorda, estava nos braços de Júlio e ele tinha a expressão de pavor.
— Tupã é você? — A mulher olha para Júlio confusa.
— Não. Como está se sentindo? — Júlio ajuda a mulher ficar sentada.
— Onde estou? — A mulher olha confusa.
— Na floresta Amazonia. — Júlio fala com orgulho.
— Onde fica isso?
— Dona, estamos em que ano? — Júlio a olha com surpresa.
— 1640. Eu vi para trabalhar com Nassau na colônia de Pernambuco.
— Quem? — Júlio estava confuso.
— Sabe o governador do Brasil holandês. — A mulher olha desconfiada para Júlio.
— Não...
— És um lacaio de Portugal?! — A mulher se levanta e percebe que está nua e começa a gritar.
— Dona! Dona! Dona! — Júlio não sabe para onde olhar.
— Pervertido!! — A mulher corre para trás de uma arvore.
— Senhora, esqueceu que era uma mula sem cabeça?
— O sonho era real?! — A mulher continua atras da arvore.
— Sim, mas o que houve? Quem te jogou esse feitiço?
— Eu não sei, mas assim que cheguei em Pernambuco, eu me apaixonei por um homem casado e ele retribui o amor. Por varias noites nós nos amamos, porém, a mulher dele logo descobriu. Ela me jogou uma maldição e quando fui dormir na noite do ano de 1640 eu sonhei que era um cavalo sem cabeça e soltando fogo.
— Uma mula, mas não vamos entrar em termos técnicos. — Júlio se aproximou, mas ela o deu um tapa.
— Porém aparentemente era real.
— Senhora, você não me deixa chegar perto, logo como iremos prosseguir. — Júlio disse.
— Pode ir embora que irei sozinha! — Ela fechou o rosto.
— Não estamos em 1640 e essas redondezas são muito perigosas, não é certo deixar uma dama sozinha na mata.
— Olha, és cavalheiro. — Ela sorriu.
Júlio fez uma tanga com folhas que cobria boa parte de seu corpo. Ele conversou com ela e disse que tem uma tribo ali perto e ela aceitou ficar com a população local. Júlio explicou a situação para a cacique Kaolin, sua mulher e também líder da tribo Aiyra Anhangá. Ela aceitou a mulher e Júlio foi correndo para o encontro de Cuca. A cova de Cuca era protegida pela sucuri enorme.
— Saia da minha frente ou partirei seu crânio!! — Júlio grita com ódio para a serpente.
— Claro... as ameaças. Boa noite para o senhor também. — A serpente que se preparava para dormir abre espaço para Júlio passar.
Ele corre e é seguido por Aram. Ele chega no covil de Cuca e encontra ela na hora da janta.
— Olá, filho do deus. — Cuca comia uma parte do garimpeiro. O homem tinha sido assado, temperado e tinha uma maça na boca.
— Que um pedaço de humano assado? — Mandioca tinha em seu prato um pedaço de coxa.
— Eu... — Júlio vomita.
— Interessante. — Cuca pega uma jarra de sangue humano e coloca em seu copo.
— Vamos a meu sonho... — Ele tenta novamente vomitar, mas não há mais o que vomitar.
— Claro. Pode deitar aqui e irei revelar o sonho por completo.
Júlio se deita na cama de Cuca e ela coloca sua mão em sua cabeça.
Um homem de pele moreno, com um cocar amarelo na cabeça e com uma tanga marrom entra em uma tenda indígena. O homem beija uma mulher e acaricia seu rosto e a beija com paixão. O homem coloca a mulher numa posição mais confortável e tira a roupa, a mulher estava encantada pela tamanha beleza do homem. Ele tinha a aparência de um índio e a mulher era da tribo do eixo.
— Eu o amo!! — A mulher beija com paixão o índio e acaricia seus cabelos que tinham cheiro de terra molhada.
O homem nada fala e acaricia sua coxa, passa a mão de forma firme em sua perna e a índia morde o lábio entrando em puro êxtase. Ele beija seu pescoço e ela senti seu pelo se levantar, a mulher acaricia as costas musculosa do homem e por fim eles se amam.
— Que noite maravilhosa!! — A mulher acorda e passa sua coxa na virilha de seu amado.
O homem não é muito de falar e a beija com entusiasmo.
— Assim você me deixa louca!! — A mulher sobe em cima dele, mas dessa vez ele a retira de forma carinhosa.
O homem acaricia seu rosto e se levanta.
— Onde vás?! — A mulher se cobre com a coberta.
Ele nada diz e sai da tenda.
— Amor?! Amor?! — A índia se veste e corre para fora, mas não encontra ninguém.
Um homem moreno com expressão de guerreiro vai até ela e a beija, mas essa no susto o interrompe.
— Amor, o que houve?!
— Eu... — A mãe de Júlio cai no chão em lagrimas.
— O que houve?! — O marido dela o abraça.
— Eu te traio!!! Mereço ser punida pela tribo. — Ela chora tanto que soluça.
— Como?! — O homem a segura pelo braço com violência.
— Um homem que parecia você esteve comigo essa noite, mas você acabou de chegar. — Ela chora bastante.
— Pajé! Pajé! Essa desgraçada disse que me traiu!! — O homem fala no ouvido do pajé.
— O que disse?! — O pajé o olha assustado.
— Essa miserável enquanto eu caçava para trazer comida para tribo me traia. — O homem a olha com nojo.
— Isso é algo para conversamos em particular. Vamos na minha tenda. — O pajé foi na frente.
O pajé caminha na frente bastante assustado com o relato do marido, isso podia acabar em assassinato se ele não tomasse uma decisão elétrica. O pajé entrou em sua oca, um lugar amplo com uma imagem enorme do deus supremo (Tupã) no centro. O deus tinha um cocar branco na cabeça, olhos brancos como a neve, pele morena e com um corpo atlético.
— Por favor vamos usar a razão. — O pajé os olhou com inquietação.
— Exilio a essa miserável!! — O homem falou com ódio.
— Eu aceito meu destino. — A mulher tinha os olhos vermelhos de tanto chorar.
— Por favor gente, vamos nos acalmar. — O pajé fala.
— Essa adultera me traiu enquanto eu me matava para trazer comida para a tribo. — O homem a olhou com fúria.
— Não justifica, mas o homem era parecido com você, mas tinha algo especial nele, algo irresistível. — A mulher não encara o marido.
— Claro, nos conte a hora que vocês treparam!! — O guerreiro ia bater nela, mas o pajé o segurou.
— Entendo sua frustação, mas não permitirei agressões físicas aqui. Temos leis severas quanto ao adultério e ela vai ser julgada como a lei determina e não como um tribunal de selvagens. — O pajé fala com firmeza.
— Desculpe, não sou um violentador de mulher...
— Temos leis para isso também e em certos casos é a morte. — O pajé se senta no banco de madeira ali próximo.
— Eu mereço a forca!! — A mulher coloca a cabeça no pé do marido.
— Eu a amo e achava que você me amasse. — O homem coloca a mão na cabeça em desespero.
— Eu o amo, mas... — A mulher voltou a chorar.
O pajé senti uma dor forte na cabeça e cai no chão se debatendo. O homem corre para ajudar, mas o pajé o empurra com violência.
— Achas que essa mulher te traiu!! — O pajé tinha a voz metálica e os olhos branco como neve.
— Pajé?! — O homem o olha assustado.
— Se curve para Tupã ou irei fazer você se curvar!! — Tupã fala e raios riscam o céu com violência.
— C-claro. — O homem gela. — Você que se deitou com minha mulher?!
— Sim. Com isso irei gerar um filho que para proteger e favorecer, mas esse menino vai ser o salvador de sua terra na segunda grande guerra. — Tupã tem o tom de voz como um apagador riscando o quadro.
— Grande guerra?! — A mulher o olha assustada.
— A primeira guerra entre povos foi um extermínio do meu povo, roubaram tudo dessa terra e levaram embora, mas dessa vez será diferente!! — O deus fala com fúria na voz.
— Primeira guerra?! — A mulher o olha assustada.
— A primeira guerra foi gerada entre civilizações e eu subestimei o poder de destruição dessa raça suja, mas dessa vez eles irão enfrentar meu escolhido. — O deus ri.
— Desculpe por desconfiar de você. — O homem cai de joelho perto da mulher.
— Eu nunca te trairia. — Ela o beija.
— Como irei chamar o escolhido, vossa majestade? — O homem não encara o deus.
— Júlio. — O deus fala e o pajé volta a si.
— Pajé. — O homem seguro o sacerdote desmaiado.
Júlio acorda e olha para Cuca em formato humana. A feiticeira tinha a aparência de uma bela índia.
— Olá filho do deus. — A mulher sorri e mostra seus dentes brancos.
— Eu preferia você em formato real. — Júlio a olha, mas sabia que aquela beleza quase divina era maquiagem.
— Medo de se apaixonar. — Cuca mostra a coxa.
— Eu já me apaixonei e é por Kaolin. — Júlio fala com firmeza.
— Eu tenho meu amante também, o curupira. — Cuca se levanta e vai até seu baú.
— Curupira e você?! — Júlio riu.
— Eu me transformo no que ele desejar e nós nos usamos, mera troca de favores — Cuca pega a fruta do guaraná.
— Um casal que combina. — Ele ri.
— Não casal e sim interesse mútuo, mas vamos ao que interessa. Tupã deseja falar com você e ele me disse que entenderia se você não desejasse.
— Tupã... — Mandioca que estava ali próxima, mas não tinha sido notada, falou apavorada.
— Calada ou irei falar com Anhangá para tirar sua maldição.
— Não tia... — Mandioca prendia um choro.
— Então nos deixe sozinho por um tempo.
— Tudo bem... — Mandioca saiu pulando com sua mandioca em mãos.
— Não seja tão rígida com ela. — Júlio fala.
— Ela precisa ser treinada com rigidez.
— Por isso que ela fugiu.
— Mando o Júlio captura-la de novo.
— Nem ferrando, mas vamos ao assunto de Tupã.
— O deus supremo quer falar com seu filho. Um conselho, não negue o pedido de Tupã... O deus te favorece.
— Não tenho raiva de Tupã, mesmo longe ele cuidou de mim. — Júlio fala de forma sincera.
— Posso invocar ele. Logicamente o deus vai falar por meio de mim.
— Invoque. — Júlio fala.
Cuca pega a fruta do guaraná e come. A feiticeira cai no chão com fortes dores estomacais, mas logo se levanta com os olhos brancos e a voz metálica.
— Olá filho. — O deus fala de forma simpática.
— Isso é bastante estranho. — Júlio olhava para a mulher.
— Eu entendo... — O deus fala desapontado.
— Eu daria tudo para te ver de forma real, sentir seu cheiro e poder te abraçar. Quando minha família morreu e fui exilado eu senti falta de um pai e você sabia que eu era seu filho e não disse. — Júlio fala com firmeza.
— Não podia... As leis proíbem que deuses e seus filhos convivam. — O deus acaricia o rosto do filho.
— Você é o deus supremo!! — Júlio se afasta.
— Eu sinto muito, mas eu te protegi.
— Sei disso, mesmo estando longe você sempre cuidou de mim. — Júlio se aproximou do deus.
— Grandes dons também exigem grandes desafios. — O deus fala.
— Eu não tinha nada e hoje tenho tudo e agradeço a você, pai. — Júlio o abraça.
— Seja o protetor dessas terras e seja o projetor desse povo!! — O deus fala.
— Serei o filho da Amazônia, pai!! — Júlio deixa uma lagrima cair.
Glossário dos deuses:
1- Tupã= Deus criador do céu, do mar e da terra. Deus do trovão.
2- Guaraci= Deus do sol.
3- Jaci= Deusa da lua.
4- Anhangá= Inimigo de Tupã. Protetor dos animais e deus do submundo.
5- Akuanduba= Deus do equilíbrio do mundo.
6- Ceuci= Deusa da agricultura.
7- Jurupari= Deus das leis.
8- Sumé= Deus da sabedoria. Responsável por ensinar os índios os saberes como cozinhar.
Uma coisa que eu aprendi com o Guaraná foi que nunca julgue alguém pela aparência.
ResponderExcluirSim
ExcluirMano, Curupira é muito nervoso hahahahaha. Amo esse cara!!!
ResponderExcluirCaipora também é em...
ExcluirCaipora na minha humilde opinião é a lenda mais forte.
ResponderExcluirObrigado por comentar
ExcluirTodo grade poder vem com grandes responsabilidades Júlio.
ResponderExcluirsim
ExcluirO que queremos?!
ResponderExcluirR: Os cinco trabalhos de Kaolin
Quando queremos?!
R: Agora
hahahahaha que pressão
ExcluirCaipora botou maior bronca no Saci, velho hahahaha
ResponderExcluirIsso hehehe
ExcluirMinha série de livros favoritos
ResponderExcluirObrigado
ExcluirNão temos muitos livros que falem de nossas lendas, obrigado por pautar esses temas e sou seu fã, antes que vire famoso hahahaha
ResponderExcluirTambém senti essa falta de livros que valorizem nossas lendas brasileiras e misturem também com a mitologia.
ExcluirTupã é muito forte, daria uma surra em Zeus.
ResponderExcluirAcho que Tupã ganharia dos três grandes deuses gregos(Zeus, Posseidon e Hades).
ExcluirA lenda da Mandioca é assustadora, mas também fofinha.
ResponderExcluirObrigado pela interação
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